“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” (Mt 28.19)
A tarefa missionária não pode esperar. A Bíblia diz que a seara é grande, os trabalhadores são poucos e o tempo está acabando. Não há esperança para os pecadores fora de Cristo. O grande evangelista pentecostal Reinhard Bonnke, conhecido por suas campanhas evangelísticas no continente africano, afirmou certa vez: “[…] o Evangelho é eterno, porém não temos a eternidade para pregá-lo. Nós só temos o tempo que vivemos para alcançarmos aqueles que vivem enquanto vivemos.” Devemos seguir o conselho de Cristo e trabalhar enquanto é dia (Jo 9.4)
I. DESAFIOS DE SER UMA IGREJA MISSIONÁRIA
O final do século XX foi, sem dúvidas, um tempo de barreiras culturais, políticas e geográficas sendo quebradas. Após a queda do Muro de Berlim e da União Soviética, experimentamos uma época em que o intercâmbio cultural fluiu como nunca. Viagens mais baratas e fronteiras abertas fizeram com que as viagens internacionais, para países até então inimagináveis, se tornassem acessíveis. E os confins da terra ficaram logo ali.
Nessa “onda”, as missões transculturais experimentaram uma expansão enorme, com os países considerados cristãos e com igrejas com forte visão missionária enviando seus vocacionados a povos que, historicamente, não se conhecia esforço missionário algum. O sonho de se ver a obra final da evangelização que precede a volta de nosso Senhor Jesus, o anúncio do Evangelho a todas as nações (Mt 24.14), parecia estar bem próximo.
O início desse século XXI, contudo, já nos apresenta um cenário bem diferente. Os atentados de “11 de Setembro” nas Torres Gêmeas marcaram um novo tempo de desconfiança entre Ocidente e Oriente. Culturas e religiões diferentes se colocaram em pé de guerra e conflitos estouraram em diferentes pontos do globo, causando migrações às centenas de milhares e o inflar dos campos de refugiados. Para não bastar, a pandemia do coronavírus trancou a todos dentro de suas casas em algo sem precedentes nas últimas gerações.
O tempo que vivemos traz grandes desafios ao trabalho missionário transcultural da Igreja de Cristo. Vistos de permanência em muitos países, antes considerados fáceis de se conseguir, tornaram-se uma enorme dificuldade. O dólar alto tornou menor o poder aquisitivo do missionário brasileiro. Os que vêm de outro país, antes saudados como trazedores de interação cultural, agora são vistos com desconfiança como portadores de vírus letais. A pergunta que paira no ar, com isso, é: ainda é possível (e necessário) se investir em missões transculturais?
A resposta a essa pergunta não pode ser encontrada nos livros de análises de tendência, mas nas Sagradas Escrituras. Nos evangelhos, a ordem de Jesus não era condicional, tipo “quando as coisas estiverem bem, anunciem o Evangelho às nações”. Pelo contrário, quando lemos o livro de Atos dos Apóstolos, vemos que os primeiros cristãos enfrentaram, no Império Romano, intempéries muito maiores do que todas as aqui citadas. Eles enfrentaram condições de viagem e moradia das mais difíceis, foram perseguidos e mortos, sofreram torturas, apedrejamentos, açoites…, mas em nenhum momento abriram mão de obedecer a ordem do Mestre: “Ide, fazei discípulos de todas as nações”.
1.1. Por onde começar? Como fazer Missões?
Para iniciar um trabalho missionário numa igreja, é necessário primeiramente que, aquelas pessoas interessadas em fazê-lo, se prontifiquem a compreender a vontade de Deus em relação ao assunto. Para isso, precisam ter a visão certa: a visão de Deus. Então podemos fazer algumas perguntas para entendermos melhor sobre essa necessidade.
• O que você sente no coração quando ouve alguém falar sobre as necessidades do mundo?
• Ideias novas e diferentes surgem em sua mente quando alguém lhe fala sobre missões?
• Você ora constantemente pelos missionários que estão no campo?
• Você tem influenciado outros para se envolverem com missões?
• Quando alguém compartilha contigo a respeito do seu chamado, você o incentiva a continuar?
• Você já mobilizou pessoas alguma vez a enviar uma oferta missionária para missões?
• Você gosta de participar de conferências, congressos, acampamentos que abordam o tema missões?
• Você envia periodicamente oferta para algum missionário no campo?
Deu para sentir que as perguntas acima apontam uma ligação inquebrável das três áreas necessárias na vida da igreja, para alguém iniciar um departamento missionário. Essas áreas são, na verdade, a essência do compromisso missionário que todo cristão deve ter no seu dia a dia, elas são:
VISÃO + AMOR PELOS PERDIDOS + DISPOSIÇÃO = MISSÕES
VISÃO – Olhar para o mundo sob a perspectiva bíblica. Saber que Jesus morreu por todos os homens. Conhecer as necessidades do homem e ter a verdadeira consciência sobre as responsabilidades conferidas a você para mudar tal situação.
AMOR PELOS PERDIDOS – Uma paixão desenfreada por aqueles que se perdem no mundo. Preocupação autêntica com as pessoas que ainda não foram alcançadas pelo evangelho. Sofrimento e dor quando ouve alguma notícia sobre a situação caótica da raça humana. Sente a responsabilidade de mudar a situação.
DISPOSIÇÃO – Levanta-se para fazer algo concreto em benefício das pessoas. Não mede esforços para trabalhar na casa de Deus. Está sempre alegre em saber que tudo aquilo que é feito para a obra de Deus é bom e satisfatório. Não importa o resultado imediato, o importante é que o nome do Senhor está sendo glorificado. Dispõe-se debaixo de uma vívida e empolgante responsabilidade para mudar a situação.
Visão = Conhecer a responsabilidade.
Amor pelos perdidos = Sentir a responsabilidade.
Disposição = Agir sob a responsabilidade.
1.2. A realidade e o desafio dos povos
1.2.1 Povos não alcançados
Antes de nos aprofundarmos em relação à questão da realidade, precisamos de apresentar o que são os povos não alcançados (conhecidos pela sigla PNAs) e quais são suas características. Segundo Ralph Winter “Povo não alcançado é um grupo de povo entre o qual não há nenhuma comunidade local de crentes com número e recursos adequados para evangelizá-lo sem ajuda externa (transcultural)”. Cerca de 48% dos não cristãos do mundo encontram-se entre os povos não alcançados, isso significa 2 bilhões de pessoas.
1.2.2 O desafio linguístico
Alguns desses PNAs não tem sequer uma estrutura de linguagem escrita formada, não leem nem escrevem em seus próprios idiomas. Em geral, esse desafio é um dos primeiros que se apresentam de forma desafiadora quando se trata de um trabalho missionário transcultural. Somente entre as tribos conhecidas como kokombas, em Gana e Togo, há mais de 23 dialetos diferentes. Para que a pregação do evangelho alcance seu objetivo, este deve ser pregado na língua do ouvinte.
1.2.3 O desafio étnico-cultural
O texto de Mateus 24.14 diz: “E será pregado esse evangelho do Reino por todo o mundo, para testemunho de todas as nações, então virá o fim.” O termo nações (ethnë no grego) nos apresenta o mundo numa perspectiva étnica. Há cerca de 5.000 etnias espalhadas pelo mundo que ainda não foram alcançadas. Uma etnia é um grupo que possui a mesma língua, história e cultura. Logo, quando falamos do mundo de hoje, não há somente os 193 países reconhecidos pela ONU. Na verdade, há aproximadamente 16.713 grupos étnicos no mundo. Somente no Brasil há mais de 300 grupos étnicos.
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